quarta-feira, 10 de março de 2010

A TARDE DAS PRAIAS


As tardes das praias não contém
a transparência dos dias como são
suspiram a luz finda
retalhada
de auroras esquecidas
e movem-se os músculos dos mares
sobre as pedras indefesas
escudos de praias derramadas
na margem de meus pés
ínfimos
à vastidão de suas plenitudes

segunda-feira, 8 de março de 2010

AÇÚCAR E MELANCOLIA

Existem as coisas feitas de açúcar
e as outras
de melancolia.

E entre elas resisto com uma flecha
trespassada no corpo
há dias resisto, ou não, entre passos

não ouvi o ruído da seta cortando o silêncio do ar
a seda do ar amparada no espaço
rompeu-se a transparência de luz
entre mim e seta
que havia um segundo antes
o som

nem o baque seco do objeto
alinhando-se às leis da física
a perfurar matematicamente meu corpo
biologicamente meu corpo
na ferida agora oculta sob a camisa grená.

Há coisas entre os dias que se perduram
por existirem em outras cores
entre açúcares contidos
à margem de outras coisas que bordejam
a melancolia
e os ossos, a terra e o envelope onde havia
uma carta de alguém que esperançoso
espera uma resposta que não escrevi.

E quando ouço meu nome
meus pés não caminham
se desemparam
minha boca se distrai num canto
inaudível
e daí entrelaço as mãos perceptíveis
forjando mandalas invisíveis.

domingo, 7 de março de 2010

MARÇO

Porque hoje é março talvez te escreva
com ramos de girassóis de verão.

A última canção que ouvimos juntos
disse tudo: não há amor sem saudades
e sem um pouco de solidão.

Mas se eu quisesse ser só
comia as flores do meu jardim
e se quisesse sentir saudades, voava
e se quisesse sentir amor, amava.

E porque ainda é março e talvez te veja
numa chuva antes do fim do mês
abandono o que em mim
já é abandono.

E leio presságios em folhas de chá
qua deixastes na sala antes de partir

E é amarga esta infusão de poemas velhos
em horas vazias.